O município capixaba de Santa Teresa brilhou em sua estreia no Desafio Mundial da Natureza Urbana 2025, um dos maiores eventos de ciência cidadã do planeta. Realizado entre os dias 29 de abril e 4 de maio, o desafio mobilizou mais de 700 cidades em todo o mundo, incentivando a observação e o registro da biodiversidade em áreas urbanas. Santa Teresa surpreendeu ao figurar entre as cinco cidades brasileiras com maior número de observações e diversidade de espécies — mesmo com menos de 25 mil habitantes.
Participação de Santa Teresa no Desafio da Natureza Urbana 2025
Coordenada pelo Instituto Nacional da Mata Atlântica (INMA), a participação de Santa Teresa contou com o envolvimento de 101 moradores, que realizaram 9.159 registros de plantas, animais e fungos, resultando na identificação de 1.880 espécies diferentes. O evento foi promovido pela plataforma iNaturalist, que reúne observações de natureza feitas por cidadãos ao redor do mundo.
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Até o encerramento do prazo de validação, em 4 de maio, 579 espécies já haviam sido confirmadas por especialistas, com base na concordância entre observadores — o que garante que esses dados possam ser utilizados em pesquisas científicas.
“É muito gratificante ver que, já na nossa primeira participação, conseguimos não só mobilizar uma parcela da comunidade, mas também gerar dados surpreendentes”, afirma a pesquisadora Mariane Kaizer, do INMA.
Morador de Santa Teresa fica entre os maiores observadores do Brasil
Um dos grandes destaques do Brasil no Desafio Mundial da Natureza Urbana 2025 foi o morador Athos Souza, de Santa Teresa, que ficou entre os dez maiores observadores do país, com 809 registros de 299 espécies diferentes. O capixaba alcançou a terceira colocação nacional em diversidade de espécies observadas.
“Ficar entre os 10 melhores do Brasil foi uma experiência especial. A ciência cidadã une paixão, propósito e aprendizado. Que mais pessoas se sintam inspiradas a observar e proteger a natureza todos os dias”, comenta Athos.
Registro de ave rara por estudante de Santa Teresa
Outro momento marcante do desafio foi protagonizado pela estudante do ensino médio Lara Marrochi, da Escola José Pinto Coelho. Durante uma partida de futebol com amigos, ela fotografou um falcão da espécie Falco deiroleucus, considerada quase ameaçada de extinção.
“Eu não sabia que era um falcão. Tirei a foto para a aula de biologia e agora descobri que registrei uma ave ameaçada. Fiquei surpresa e muito animada”, disse Lara.
A jovem conheceu o aplicativo iNaturalist por meio de uma ação do INMA na escola e agora pretende continuar contribuindo com novos registros. Para a pesquisadora Flávia Chaves, ornitóloga do INMA, “registros como esse ajudam a entender a situação das populações de espécies ameaçadas e a planejar estratégias para sua conservação”.
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Espécies raras e ameaçadas registradas em Santa Teresa
Durante o evento, diversos registros surpreenderam os pesquisadores. Entre os mamíferos observados, estão espécies ameaçadas de extinção como o guigó-mascarado (Callicebus personatus) e um veado do gênero Mazama sp.. A presença da lontra (Lontra longicaudis) em córregos urbanos também foi documentada, reforçando a importância da conservação de ambientes naturais dentro das cidades.
Outras descobertas envolvem insetos endêmicos da Mata Atlântica, como as cigarrinhas Aulacizes erythrocephala, Mahanarva rubripennis, Tunaima pellucens e Versigonalia ruficauda — espécies que ocorrem apenas nesse bioma.
Descoberta inédita no Espírito Santo: vespa-serra rara é registrada
O desafio também rendeu um registro inédito para o Espírito Santo: a espécie rara de vespa-serra Skelosyzygonia spinipes, que até então só havia sido documentada no Rio de Janeiro e em São Paulo, foi identificada em Santa Teresa.
“Agora sabemos que essa espécie também ocorre aqui. Isso pode fomentar novas pesquisas sobre a biodiversidade da região”, destacou Thiago Mahlmann, curador da coleção de invertebrados do INMA.
Espécies mais observadas em Santa Teresa
A espécie mais registrada durante o desafio foi a aranha Nephilingis cruentata, conhecida popularmente como maria-bola, comum em telhados e quintais da cidade. Em segundo lugar, ficou o jacu (Penelope obscura), ave amplamente avistada no Parque do Museu de Biologia Prof. Mello Leitão. Entre as plantas, o destaque foi o arbusto orelha-de-onça (Pleroma heteromallum), com suas flores roxas típicas da Mata Atlântica.
Desafio Mundial da Natureza Urbana 2025: números globais
Em sua 10ª edição, o Desafio Mundial da Natureza Urbana bateu recordes: mais de 2,4 milhões de observações, 65 mil espécies identificadas e mais de 3.900 espécies raras ou ameaçadas registradas em todo o mundo. Os resultados globais foram divulgados em 5 de maio.
Criado em 2016 por instituições norte-americanas como o Museu de História Natural do Condado de Los Angeles e a Academia de Ciências da Califórnia, o evento já mobilizou milhares de pessoas em prol da ciência cidadã e da preservação da biodiversidade urbana.
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