Médico humanitário apareceu em Colatina em 1931 aonde foi prefeito
Texto de Paulo César Dutra (Cesinha) – 22/08/2020
Quando era governador do Estado do Espírito Santo (na Ditadura de Vargas de 1930 a 1945), em 1935, o coronel Joao Punaro Bley nomeou então para excercer o cargo de Prefeito Municipal de Colatina, no Estado do Espírito Santo, o médico Justiniano de Mello e Silva Netto, um homem de idéias avançadas.
Justiniano havia nascido em Curitiba, no Paraná e junto com o irmão Wallace de Mello e Silva (fundador do jornal A Tribuna, em 1938) após se formarem em Medicina, saíram da terra natal e vieram trabalhar em Ipanema; cidade mineira do Vale do Rio Doce (que fica entre Governador Valadares-MG e Colatina-ES) e de lá vieram afinal para Colatina.
Contudo antes de vir para Colatina, ainda na década de 20 do século passado, em Ipanema onde trabalhava como médico, começou a sua carreira política como prefeito, de 1927 a 1931 daquela cidade.
Em 1930, ainda como prefeito de Ipanema, ocupou a região Norte do Espírito Santo, como chefe regional das forças revolucionárias de Minas Gerais; estado na época governado por Benedito Valadares, que apoiava Getúlio Vargas, em oposição a Washington Luiz.
Em 1932, logo após a ocupação, veio para Colatina, onde fundou a Casa de Saúde São Sebastião, também conhecida por Casa de Saúde Dr. Justiniano, e onde viveu a maior parte de suas vidas política e profissional.
Criação de Linhares
Na época, era prefeito, o advogado e amigo Ademar Távora, que ao deixar a Prefeitura, em 1934, indicou o seu nome então como sucessor ao interventor no governo do Estado do Espírito Santo, que havia assumido em 1931, o capitão Punaro Bley. Aceitou o pedido e foi nomeado prefeito.
Entretanto, quando o governo estadual decretou a divisão territorial do município de Colatina (criação de Linhares), ele discordou da decisão e pediu demissão do cargo com um ano de mandato.
Após alguns anos, com a saída do governador Punaro Bley, Justiniano foi convidado pelo então Ministro da Justiça Carlos Luz, seu amigo desde a época em que passou pela Prefeitura de Santa Leopoldina; onde também foi interventor, para ocupar o cargo de governador do Espírito Santo, o que não aceitou alegando compromissos profissionais.
De 1939 a 1940 morou na cidade de São Paulo, e depois retornou a Colatina. Em 1947 elegeu-se vereador. Quatro anos depois voltou a ser prefeito de Colatina por meio do voto direto. Ele foi eleito para comandar a administração da cidade que adotara, entre 1951-1955.
Prestígio pessoal do prefeito
E foi nessa administração que o médico se colocou inteiramente em favor da cidade. Mas foi a custa de muito sacrifício que ele começou o seu mandato, já que recebeu a Prefeitura com o cofre vazio, muitas despesas e dívidas.
Foram meses de intensos sacrifícios para uma administração progressista. No mandato, Justiniano comprou um trator; uma motoniveladora, um caminhão de lixo e um caminhão pipa para abastecer as residências que não contavam com água encanada. Esses equipamentos foram adquiridos graças ao prestígio pessoal do prefeito, que com o seu próprio crédito, avalizou para a própria prefeitura o investimento.
Neste período da sua administração, ele construiu o Estádio Olimpico do município que foi batizado com seu nome. Ele criou a Diretoria de Imprensa Oficial (hoje a Secretaria Municipal de Comunicação Social) e a Biblioteca Municipal.
Em sua administração é que foi elaborado o Plano Diretor Urbano (PDU) de Colatina, já prevendo o aterro da Avenida Beira-Rio; pelos irmãos arquitetos Plínio, Marcos e Otávio, da família Catanhêde, discípulos do arquiteto franco- suíço, Le Corbusier.
História século
Devido à sua administração, que em 1956, já na gestão de Raul Giuberti, Colatina foi premiado como um dos cinco municípios brasileiros então mais desenvolvidos do país, escolhido pela Revista Cruzeiro; pelo Instituto Brasileiro de Administração Municipal (IBAM) e por uma revista americana. Justiniano também ficou na história do Século passado, como o único prefeito da cidade que conseguiu eleger então o seu sucessor, Raul Giuberti (1955 a 1958).
Ele, sempre na roda de amigos, com a família, ou com pessoas nas ruas de Colatina, gostava de dizer assim essa frase: “O Espírito Santo não vota, inspira. Agora, os capixabas sim votam”.
Em Colatina, ele não só fez os partos, como também batizou boa parte da população. Uma das suas marcas na cidade é o estádio de futebol Justiniano de Mello e Silva.
Origens
Nascido em 9 de setembro de 1899 em Curitiba, Justiniano era filho de Joana Tadeu e Wallace de Mello e Silva. O nome foi herdado do avô paterno, que também influenciou assim a sua vida política; o professor sergipano e também advogado formado pela Faculdade de Direito de Recife.
Em 1876, a convite do presidente do estado do Paraná; Lamenha Lins, o avô Justiniano assumiu então a função de secretário do governo da Província do Paraná. Em 1892, foi Diretor Geral da Instrução Pública (Educação).
Foi deputado provincial e deputado estadual. Em Curitiba, foi professor de português, pedagogia e inglês e colaborador de diversos jornais, em Recife e no Paraná.
Justiniano era médico formado pela Faculdade Nacional de Medicina, do Rio de Janeiro, em 1923; começou então a carreira na Santa Casa de Misericórdia de Curitiba (Paraná), sua cidade natal.
Justiniano Netto teve sete irmãos. Aos 73 anos deixou a carreira profissional de médico. Aos 85 anos manifestava o sonho de viver pelo menos até no mês de janeiro de 2000; para ter a satisfação de ter vivido afinal nos três séculos.
O sonho acabou não se realizando, pois os problemas de saúde se agravaram.
Em 1985 foi morar afinal em Curitiba com o único filho, Luís Antonio, que também é médico, onde faleceu em 1986. Era casado com Ruth Lacerda.
Fonte: Diário Digital Capixaba