Portal Colatina em Ação – 21/08/2020
Possíveis crimes de apropriação indébita, lavagem de capitais, organização criminosa, sonegação fiscal e falsidade ideológica praticadas pelos dirigentes das três associações ligadas à Igreja Católica em Trindade, que recebiam doações em dinheiro de fiéis, estão sendo investigados pelo Ministério Público de Goiás (MP-GO); por intermédio do Grupo de Atuação Especial de Combate ao Crime Organizado (Gaeco), na Operação Vendilhões. Foram bloqueados judicialmente R$ 60 milhões em bens imóveis e valores em contas bancárias dos envolvidos.
De acordo com o promotor de Justiça Sebastião Marcos Martins, que coordenou a ação, deflagrada na manhã desta sexta-feira (21/8), está sendo analisada uma movimentação financeira equivalente a R$ 1,7 bilhão.
Conforme ele informou durante entrevista coletiva realizada na tarde desta sexta-feira (21/9); a fraude não atinge o montante na sua íntegra, mas, a partir da documentação apreendida, será possível definir o valor que foi desviado.
Teriam sido beneficiados com o desvio o padre Robson de Oliveira Pereira, que preside a Associação Filhos do Pai Eterno (Afipe) – CNPJ nº 06.279.215/0001-70 –; Associação Filhos do Pai Eterno e Perpétuo Socorro – CNPJ nº 11.300.117/0001-07 –, e Associação Pai Eterno e Perpétuo Socorro – CNPJ nº 11.430.844/0001-99 –, e uma rede de empresas e pessoas que foi criada para a realização das possíveis fraudes.
A investigação que resultou na Operação Vendilhões teve início em 2019, a partir da condenação de um grupo criminoso que praticou extorsão contra padre Robson.
Na ocasião, cinco pessoas exigiram mais de R$ 2 milhões para que não fossem divulgadas imagens e mensagens eletrônicas com informações pessoais; amorosas e profissionais que prejudicassem a imagem do religioso. O processo foi enviado ao Gaeco para apurar assim a origem do dinheiro utilizado para pagamento de parte do valor ao grupo criminoso.
Teia financeira
Na análise da movimentação financeira das Afipes, o Gaeco descobriu, segundo Sebastião Marcos Martins, uma grande teia de movimentações financeiras, envolvendo a compra e venda de imóveis – casas, apartamentos e fazendas – em Goiás e outros Estados, além de transferências de valores entre contas bancárias.
De acordo com o promotor de Justiça, as três associações recebiam dinheiro separadamente, proveniente de doações de fiéis, e transferiam os valores com a utilização de contas bancárias de terceiros.
Na operação, foram cumpridos 16 mandados de busca e apreensão na sede das associações, empresas e residências em Goiânia e Trindade; expedidos pelo Juízo da Vara de Feitos Relativos a Organizações Criminosas e Lavagem de Capitais, em decisão da juíza Placidina Pires.
Foi encontrado então dinheiro nos locais das buscas e apreensões, cujo valor ainda está sendo contabilizado. Participaram assim da operação 20 promotores de Justiça, 52 servidores do MP-GO, 4 delegados, 8 agentes da Polícia Civil e 61 policiais militares.
Doações de fiéis
Durante a entrevista coletiva, o procurador-geral da Justiça de Goiás, Aylton Flávio Vechi, afirmou que a investigação buscou apurar o proveito eminentemente econômico da fé e da devoção de milhares de pessoas; respaldado nas doações para a construção da nova Basílica de Trindade e no atendimento aos fiéis. Conforme ele, faz-se necessário garantir a reparação dos danos que podem ter sido causados pela conduta.
O secretário de Segurança Pública, Rodnei Miranda disse, na entrevista, que o volume de recursos em investigação pressupõe algum tipo de ilegalidade cometida pelos dirigentes das Afipes.
Também estavam presentes o coordenador do Centro Integrado de Inteligência do MP-GO e do Gaeco, Rodney da Silva; os promotores de Justiça Gabriella de Queiroz Clementino, José Humberto Nunes Nogueira, Juan Borges de Abreu; Marcelo Crepaldi Dias Barreira e Sandro Henrique Silva Halfeld Barros, e o delegado da Polícia Civil Alexandre Lourenço. (Texto: João Carlos de Faria – Comunicação Social do MP-GO)