A crônica-reportagem narra saga dos feirantes rumo ao Centenário de Colatina 1921 a 2021
Os preços estão ali na cara do freguês. São escritos a mão nas tabuletas de papelão a fim de laçar o comprador na feira livre armada aos sábados em Colatina, noroeste do Espírito Santo.
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Como a maioria vende a mesma coisa no meio daquela confusão de barracas coloridas, o jeito é fazer a diferença.
Se não for no preço, ou na qualidade é no grito. A gritaria de promoção do produto foi proibida pela Lei 5719/2011. A legislação regulamenta a Feira do Produtor Rural e Agricultura Familiar de Colatina. Volta é meia é ludibriada por uns e outros que soltam o verbo: ‘Olha aí olha ai freguesia’.
A fartura de verduras fresquinhas, legumes e frutas das montanhas capixabas, pão e queijo de primeira linha é oferecida aos colatinenses há 42 anos. A feira foi criada pelo técnico agrícola Darcy Casteluber, hoje na altura dos seus 75 anos.
Darcy Casteluber o pai da Feira Livre de Colatina
Casteluber recorda o dia exato da cerimônia inaugural: 15 de agosto de 1978 defronte a esplêndida arquitetura moderna do Iate Clube, em ruínas desde 2010 pelas mãos dos sócios demolidores.
O futuro mercadão a céu aberto começou no raiar do dia com penas cinco feirantes. Estava lá Jorge Fachetti, Pedro Osvildo Coslop, o Ivo, Edernir Fechetti, o Deni irmão de Jorge, Constantino Araújo e Olívio Zurlo, aponta Casteluber.
Teve banda de música, a turma de jaleco branco, banca padronizada presença do prefeito Devacyr Zaché, além do discurso de dona Lúcia Rezende Dalla. Ela representou o então deputado federal Moacyr Dalla na solenidade.
Dos cinco feirantes pioneiros, o único sobrevivente é o elétrico Jorge José Fachetti, 67. Ele deixou de fazer feira, mas vende hortaliças diariamente no mercado municipal, fincado no coração do centro de Colatina.
‘Vai um molhe freguês? Diz em voz alta Jorge Fachetti pra lembrar os 40 anos de feira.
O verdureiro Jorge herdou do pai Antônio a ciência do plantio de hortaliças na mesma fatia de terra colonizada pelos Fachetti.
“Expulsaram os índios e tomaram posse”, revela Jorge que aos oito anos acompanhava o pai até o mercado de charrete. Fachetti diz sentir aflição ao perceber o fim da horta sem veneno e água limpa de poços profundos. “Quando eu morrer acaba. Sei que ninguém vai seguir meus passos”, disse.
A inciativa de criar a feira deu certo. Poucas semanas depois de cinco subiu para 60, este ano bateu na casa dos 284 cadastrados. Já chegou a 400, rebate o fiscal da feira Eraldo Pimenta.
A cidade cresceu.Por anos a fio a feira ocupava a Ângelo Giuberti e mudou-se de mala e cuia para área de eventos da Praça do Sol Poente. As terças-feiras é feita em São Silvano atrás do Clube ACD. O resto é só alegria. Verdade. Em latim feira quer dizer ‘dia de festa’. Opa.
Ex-Deputado Constituinte vende queijo na feira
O ex-deputado federal Lézio Sahtler virou fazendeiro no Norte. Faz cerca de 45 queijos semanalmente. Há 12 anos vende queijo, requeijão e manteiga na feira. Não sobra nada. A produção é feita por ele e a mulher, a advogada Deuzir.
“Costumo dizer: queijo que não frita, não é queijo”, destaca o advogado e professor Lézio que ocupou duas vezes a Câmara dos Deputados.
De 1987 a 1991 como deputado Constituinte e de 1993 a 1995. Exerceu cargos públicos como diretor do Detran Vitoria, da Telest ES e delegado regional do Ministério da Educação.
Lézio trocou a vaidade de certas figuras públicas pela luta de vencer como produtor rural. Duas cadeiras, sombrinha de praia, mesa de armar e um tubo de moedas é balcão de vendas do sítio. O tubinho? Na hora serve de chocalho para atrair a freguesia.
“Chique-tique-chique-tique”, olha o queijo, requeijão e manteiga aí freguesia”, diz o sorridente Lézio de camisa estampada e de bem com vida. Afinal, feira em latim também significa ‘de férias’.
“Já o secretário de agricultura de Colatina Distone da Silva afirma que a feira do produtor, além de gerar renda e escoamento é um ‘local de troca de experiências e novas oportunidades de negócios da região norte noroeste capixaba”, disse Distone.
O secretário lembra que a feira começa na noite anterior quando os agricultores da região serrana – Santa Teresa, Santa Leopoldina, Santa Maria do Jetibá, Itarana e São Roque chegam carregados de mercadorias. “O grupo só fala entre si em pomerano e alemão”, lembrou o aspecto cosmopolita da Feira Livre de Colatina.
Vídeo: Um passeio pela Feira Livre de Colatina no dia 18 de maio de 2019.
O professor Flávio José Inocêncio, 56 anos afirma que lá são ofertadas iguarias da culinária italiana, entre elas o capeletti ou agnonile como se diz na Itália.
Flávio ressalta que nome da massa veio aparência do modelo de um chapeuzinho antigo. “Todo vez que posso vou a feira, afirma”. Ele leciona italiano e promove serviços de cidadania em Colatina. Boa parte dos colatinenses são descendentes de europeus, sobretudo, italianos.
“A viagem de navio dos imigrante durava 36 dias. Foi um tempo de privações e dificuldades”, comentou.
Matéria produzida pelo jornalista Nilo Tardin do Site Diário Digital Capixaba