Atuação do Plano de Manejo de Rejeito, proposto pela Fundação Renova, já começa a apresentar resultados
O mar de lama já começa a florescer. A vegetação que acompanha as margens dos rios Gualaxo e do Carmo e dezenas de afluentes do rio Doce revela hoje um cenário natural inimaginável para quem esteve no local há menos de quatro anos, quando quase 40 de milhões de metros cúbicos de rejeitos desceram pelos cursos d’água em Mariana, na região Central do Estado, após rompimento da barragem de Fundão, no dia 5 de novembro de 2015.
Um quarto dos resíduos minerais se espalhou pelos 100 km do primeiro trecho, o mais impactado por aquele que é considerado o maior desastre ambiental da história do Brasil.
A partir desta segunda-feira (19), a série “Capítulos do Rio Doce”, do Portal O Tempo, detalha o Plano de Manejo de Rejeito e diferentes ações adotadas pela Fundação Renova criada após a tragédia para coordenar a reparação e as compensações do desastre.
Lidar com essa quantidade de lama foi um dos maiores desafios nas ações de reparação, uma vez que não há registro na história do Brasil de um trabalho como esse. As soluções para esse problema envolveram mais de 80 especialistas de universidades e instituições.
O Plano de Manejo de Rejeitos foi aprovado em junho de 2017 e dividiu a região atingida em 17 trechos ao longo dos 670 km da bacia, que vão de Fundão à foz do rio Doce, no Espírito Santo. O orçamento para as ações em 2019 supera os R$ 70 milhões.
A atuação no manejo de rejeitos tem características bem distintas entre os locais. Os 40 milhões de metros cúbicos de rejeito se espalharam de forma diferente: 10 milhões de metros cúbicos ficaram do local do desastre até a Usina Hidrelétrica Risoleta Neves, a conhecida Candonga, no limite de Rio Doce e Santa Cruz do Escalvado, outros 10 milhões de metros cúbicos se depositaram na própria usina – que ajudou a conter o mar de lama – e os outros 20 milhões de metros cúbicos seguiram ao longo do percurso do rio Doce.
“Após o trabalho emergencial, a gente precisou entender como trabalhar esse rejeito. De Candonga para frente, são camadas de centímetros. Se eu colocar draga ou retroescavadeira para tirar camada fina, isso traz um impacto muito maior. A ideia é monitorar o comportamento do rejeito ao longo do rio e acompanhar a evolução do ecossistema”, explicou Juliana Bedoya, líder das ações de Manejo de Rejeitos da Fundação Renova.
Sedimento novo
O rejeito que afetou a bacia do rio Doce é um material muito semelhante ao solo da região. Estudos mostraram que o material é inerte, ou seja, não libera metais no meio ambiente, de forma a causar alterações. Com o rompimento da barragem, o rejeito foi se misturando com o que encontrou ao longo da bacia.
Para se ter uma ideia, a onda de lama foi tão forte que escavou o fundo dos rios e isso criou uma mistura que não tem a característica do rejeito puro, tal qual se conhece. Além disso, em cada trecho o rejeito se depositou de uma forma, com uma característica diferente.
“Precisamos fazer com que o rejeito que está fora da calha não volte para a calha. Por isso, nosso foco é a revegetação para conter esse material. Ele não é um material contaminado e, ao contrário do que se pensava antes, a vegetação se desenvolve muito bem ali. Se você adubar bem, o rejeito não volta para a calha”, garante Juliana Bedoya.
Manejar o rejeito não significa necessariamente retirar o material de onde ele ficou depositado. As iniciativas têm como princípio soluções com o menor impacto ao meio ambiente e seu entorno (incluindo as comunidades atingidas). Em alguns casos sim, a melhor indicação é pela retirada completa do rejeito.
Área urbana
O município de Barra Longa foi o único onde houve uma área urbana diretamente atingida pela lama e, por isso, foi o local com o maior trabalho para a retirada de rejeitos, um total de 157 mil metros cúbicos.
Parte desse rejeito foi enviado para o parque de exposição da cidade e serviu de base para elevação de um campo de futebol no local. A outra parte foi enviada para uma área de aterro que foi preparada especificamente para receber esse material.
Do reservatório da usina de Candonga, já foi retirado aproximadamente 1 milhão de metros cúbicos de rejeito. A Renova ainda estuda outras formas de usar os rejeitos. Fonte: Site O Tempo