Na cidade de Colatina, famosa por seu belíssimo pôr-de-sol, no estado de Espírito Santo, há uma rua chamada em homenagem a Pedro Epichim (ou Epichin). A rua é bastante extensa e segue paralelamente ao Rio Doce, talvez para nos lembrar das viagens deste homem que ficou na História brasileira
Redação Colatina em Ação – 11/07/2019
Hoje, pouca gente sabe quem foi o engenheiro naval que deu seu nome à rua da cidade.
Pedro Epichin, o russo que se tornou brasileiro
Pedro Epichim nasceu em 12 de junho de 1890 na Rússia e morreu em 29 de outubro de 1968 no Brasil. O imigrante russo comandou por muitos anos o barco a vapor Juparanã e realizou viagens entre Colatina e o porto de Regência.
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Não há nenhuns dados oficiais sobre o seu nome real ou origem. Podemos somente colocar a hipótese de seu nome ser Pyotr, que pode ser considerado o análogo russo do nome Pedro, enquanto o seu apelido, Epishin podia se ter transformado em Epichim sob a influência da fonética do português brasileiro.
O único retrato conhecido de Pedro Epichim, que faz parte do acervo do Museu de História de Regência, mostra um homem jovem em uniforme militar de marinheiro. O único detalhe da sua aparência que pode contar-nos mais do que sabemos é a inscrição na fita ao redor de seu boné. Indica que, muito provavelmente, prestou o serviço militar no cruzador Zabaikalets (por tradição, no Império Russo as fitas dos bonés dos marinheiros tinham os nomes dos navios nos quais prestavam serviço, agora têm o nome de Frota na qual marinheiros prestam serviço).
Império Russo
Conforme algumas informações, o cruzador Zabaikalets foi lançado ao mar em 1906 e, a partir de 1907, foi colocado ao serviço na Frota do Mar Báltico do Império russo.
No Império russo os marinheiros eram a elite das Forças Armadas. Como regra, somente os nobres se podiam tornar oficiais da Marinha. Recebiam uma boa educação e destacavam-se como homens leais ao Czar russo. Muito provavelmente, Pedro Epichim era filho de fidalgos russos, mas isso é também somente uma hipótese.
As razões, bem como a altura da sua imigração para o Brasil, são desconhecidas. Segundo a professora Maria Lúcia Grossi Zunti, autora do livro Panorama Histórico de Linhares, ele teria abandonado a Rússia após a Revolução de Outubro de 1917 entre os muitos militares não solidários com o novo poder. Assim, a razão principal podia ter um caráter político.
O Colatinense
Ao mesmo tempo, o jornal O Colatinense publicou informações que confirmam que a sua travessia do oceano Atlântico podia ter sido efetuada ainda antes do começo da Primeira Guerra Mundial. Qualquer que seja a verdade, segundo José Tristão Fernandes, Pedro Epichim desembarcou de um navio russo que aportou à cidade de Vitória e acabou ficando no Brasil, onde também encontrou uma mulher com quem se casou. Ele viria a ter 8 filhos e 21 netos.
“Era engenheiro naval e foi ter às oficinas de Vitória-Minas, em João Neiva”, cita Sam de Mattos Jr a publicação de José Tristão Fernandes.
O presidente do Espírito Santo (1924-1928) Florentino Avidos encontrou o imigrante russo e confiou-lhe “a missão de montar as peças e erguer o maquinário de aço”.
Foi assim que Pedro Epichim, engenheiro naval russo, se tornou comandante do vaporzinho brasileiro chamado pelos colatinenses de Velho Comandante ou Almirante.
O Juparanã
Qual era o instrumento principal do seu trabalho? O vapor Juparanã foi inaugurado em 1926. Segundo as Crônicas do Espírito Santo, escritas por Rubem Braga, o vapor, de cor branca, tinha “26 metros da popa à proa, e 6 de largura”. Era movido a lenha e dotado de um motor de 80 cavalos. Tinha dois andares e uma chaminé.
No andar de cima acomodavam-se os passageiros da primeira classe, e no andar de baixo – os da segunda. Tinha a capacidade de 300 pessoas e podia levar “até 25 toneladas de carga”. Conforme o texto de Maria Lúcia, o vapor realizava duas viagens por semana entre Colatina e Regência. Uma de ida e outra de volta. O Juparanã fazia várias escalas durante a viagem.
Maria Lúcia
“Durante o percurso, o vapor parava muitas vezes perto de algum barranco onde havia uma bandeira branca, sinal certo que indicava a presença de passageiros ou cargas. Outras vezes parava para se abastecer de lenha que alimentava a caldeira e fazia girar as grandes rodas, rodas em forma de pás que moviam o barco”, escreveu Maria Lúcia.
O vapor foi local de encontros interessantes, de aventuras e novas experiências durante as viagens no rio Doce, que naquela altura era portanto caudaloso.
A história das viagens do Almirante Epichim acabou em um naufrágio. Por muitos anos, o velho vapor continuou assim à beira do rio Doce.
A paisagem do rio mudou muito. Agora ele não é tão caudaloso como antes. A catástrofe que atingiu o rio em 2015 arruinou a beleza e biodiversidade do seu leito.
A grande missão do marinheiro russo
Conforme os Anais do Senado de novembro de 1968, Pedro Epichim foi um grande homem que conseguiu tornar-se brasileiro naturalizado e patriota exemplar do Brasil. O senador Cattete Pinheiro até chamou-o de “pioneiro da região do Espírito Santo”.
Segundo várias fontes, a missão do imigrante russo não era somente transportar pessoas e cargas entre diferentes pontos das margens do rio, mas contribuir para a colonização e desenvolvimento do Vale do Rio Doce. Entre outros pormenores conhecidos, sabe-se que Pedro Epichim não aceitava pagamentos pelo transporte de lavradores que chegaram para a região e não tinham forma de pagar.
Regência
As recordações de muitas pessoas provam que era um verdadeiro filantropo que agia nos interesses de toda a nação brasileira, um homem forte que tinha a vontade de se abrasileirar para cumprir então a sua missão de forma melhor.
As pessoas que conheciam Pedro Epichim estão morrendo e hoje poucos podem recordar o tempo em que o vapor com o comandante russo a bordo aportava então em Colatina vindo de Regência.
Fonte: SPUTNIK
Quando morei em COLATINA nas décadas 60/70, estudei no CONDE DE LINHARES com vários
famiIiares do comandante EPICHIM.
Q pena não temos esse acervo hoje( vaporzinho), essa parte da história , da minha cidade natal…