*Por Eliane Lordello, Arquiteta e Urbanista.
Portal Colatina em Ação – 01/03/2022
Percorrendo uma estrada sinuosa, que coleia entre os morros e o Rio Doce, atinge-se a vila de Itapina, localizada a apenas 30 km de Colatina. Itapina não nos oferece uma apreensão imediata, pois não há ali um ponto nodal, como uma grande praça ou um adro de Igreja. Em Itapina, é preciso caminhar para descobrir. Vagar pela Rua Elisa Castiglione Rosa, e ir desvendando a antiga vila comercial e ferroviária, tendo o rio Doce como companheiro fiel.
No percurso, vê-se a ponte inacabada, hoje funcionando como um mirante da cidade. Segue-se o caminho descobrindo a pequenina capela chamada de “Egreja de Sant’Antonio”. Mais adiante, o casario vai se descortinando, são casas simples, de singela concepção, mas cada qual com muita história para contar. Assim é, por exemplo, a Casa da Parteira Perina Rongoni, que ajudou a dar a luz a um montão de crianças de Itapina.
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Continuando o percurso, logo após uma curva destaca-se o Museu Virgínia Tamanini, outrora residência desta escritora e teatróloga nascida em Santa Teresa. O imóvel do museu foi restaurado pela Secult em convênio com o Município de Colatina.
A vila de Itapina desenvolveu-se às margens do Rio Doce na passagem do século 19 para o século 20. Conquanto fosse o principal produto capixaba e relevante fonte de receita para o governo, até o final do século 19 o café não havia possibilitado maiores investimentos em infraestrutura no norte do Espírito Santo, sobretudo quanto aos meios de transporte de cargas. No entanto, na primeira metade do século 20, Itapina se destacou como um dos locais de maior êxito no comércio de café no Espírito Santo.
Com a construção da Estrada de Ferro Vitória-Minas, e os vários pontos de apoio do trem, desenvolveu-se um núcleo urbano em seu entorno. Surgiram assim novos povoados. Em Itapina, este sucesso possibilitou intensificar as atividades agrícolas e comerciais. Em função do grande desenvolvimento alcançado pela região de Colatina, e da criação do Serviço Rodoviário, a Estação Ferroviária de Itapina transformou-a em uma das vilas mais movimentadas da companhia ferroviária na primeira metade do século 20.
Com a campanha nacional de erradicação dos cafezais, realizada na segunda metade do século 20, foram se esgotando as atividades da estação ferroviária, e assim também aconteceu com outros serviços, que gradativamente rarearam e aos poucos cessaram. Este quadro levou Itapina a se estagnar economicamente. Com essa estagnação, a vila parou no tempo, o que, paradoxalmente, permitiu que a ambiência urbana daquele período se mantivesse, preservando o ambiente local.
Consciente da riqueza histórica do distrito de Itapina e das qualidades de seu ambiente cultural, o CEC aprovou, no dia 4 de novembro de 2010, o tombamento do Sítio Histórico de Itapina, em reunião realizada no próprio distrito. Posteriormente, em 8 de fevereiro de 2013, o CEC emitiu a Resolução CEC nº 03/2013, que aprova o Tombamento do Conjunto Histórico e Paisagístico de Itapina. Esta resolução dispõe sobre a regulamentação das diretrizes para intervenções nos espaços públicos, lotes e edificações integrantes da Área de Proteção do Ambiente Cultural de Itapina.
Para o porte da vila de Itapina, o seu casario é bastante diversificado, apresentando exemplares de arquiteturas de influências do Art Déco, do Proto-modernismo, e do Ecletismo. Deste último estilo, há, inclusive, um antigo hotel em cuja fachada destacam-se arabescos, provável testemunho da imigração árabe que movimentou o comércio local.
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O conjunto assim formado vem sendo aos poucos ressignificado, com a restauração dos imóveis, apoiada pelos editais do Funcultura/Secult, que já ajudaram a restaurar quatro imóveis, todos em pleno funcionamento. Além disso, os itapinenses vêm redescobrindo sua história com os projetos de educação patrimonial premiados por editais do Funcultura/Secult, tais como o “Clicar Itapina”, o “Pixx Flux: Video Mapping com as Crianças do Sítio Histórico de Itapina”, e a oficina “A Escola Maria Ortiz como Lugar de Memória”.
Sobre a autora
Eliane Lordello é Arquiteta e Urbanista (UFES, 1991), Mestre em Arquitetura (UFRJ, 2003), Doutora em Desenvolvimento Urbano na área de Conservação Integrada do Patrimônio Histórico (UFPE, 2008). É Arquiteta da Secretaria de Estado da Cultura do Espírito Santo.
Fiquei mt feliz de complementar um pouco mais, da historia de itapina, ja que meu pai conta bastante coisas q viveu qd crianca, morou na zona rural proximo ao comercio